A (DES)CONSTRUÇÃO MORAL E CRIMINAL DA PSICOPATIA
DOI:
https://doi.org/10.37951/2318-2288.2024v13i1.p18-32Palavras-chave:
Psicopatia, Razão instrumental, NeoliberalResumo
Com este estudo se pretende problematizar o conceito de psicopatia que se encontra profundamente enraizado na sociedade. Visando fazer cair por terra a visão teatral, romantizada e superficial de um ser para-além da humanidade, capaz de causar dor e sofrimento naqueles que podem ser considerados como “normais”, este ensaio se propõe a passear por alguns campos dos saberes para que, assim, seja possível chegar a essa (des)construção argumentativa. Para além da sua construção ao longo dos anos, é necessário problematizar a relação midiática que abrange este fenômeno e a forma como o mesmo é utilizado pelos próprios pesquisadores e cientistas do ramo. A partir da revisão bibliográfica, foi demonstrado como a psicopatia se tornou uma das grandes religiões científicas não-nomeadas do século XXI, aceitada, quase que de forma infantilizada e fantasiosa, como um degrau que coloca parte da humanidade em uma posição elevada, a transformando em um para-além-do-homem – um monstro que causa tanto admiração quanto repulsa e assombro. Mas urge o tempo em que devemos ligar nossas lanternas e espiarmos embaixo de nossas camas – esse bicho-papão alimentado pela mídia e pela ciência existe de fato? Ou seria somente uma loucura fabricada pela própria humanidade, enquanto animais dotados de racionalidade, e que, através dessa racionalização instrumentalizada, insistem em se aprisionar em suas próprias fixações pela categorização?
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