Pé Torto Congênito em paciente com Artrogripose e os desafios diagnósticos e terapêuticos: um relato de caso

Resumo

O Pé Torto Congênito (PTC) é uma deformidade estrutural complexa que compromete o alinhamento e a mobilidade dos pés, caracterizando-se por inversão, adução e rigidez articular. Sua origem é multifatorial, envolvendo fatores genéticos, neuromusculares e mecânicos. Quando associado à Artrogripose Múltipla Congênita (AMC) — condição rara e não progressiva marcada por contraturas articulares múltiplas e limitação dos movimentos fetais — o manejo clínico e funcional torna-se significativamente mais desafiador. Este estudo relata o caso de um paciente do sexo masculino, atualmente com sete anos, diagnosticado no período pré-natal com PTC bilateral e posteriormente com AMC. O tratamento foi iniciado aos oito dias de vida pelo método de Ponseti, com manipulações e gessos seriados, porém com resposta parcial devido à rigidez articular. Foram necessárias três tenotomias bilaterais do tendão de Aquiles, fisioterapia intensiva e uso prolongado de órteses Denis Brown e Ankle-Foot Orthosis (AFO). O acompanhamento contínuo permitiu correção funcional satisfatória, marcha independente e preservação das funções motoras. O caso reforça a importância do diagnóstico precoce — inclusive intrauterino — e do manejo interdisciplinar envolvendo ortopedia, fisioterapia e acompanhamento familiar, visando reduzir recidivas e promover reabilitação motora efetiva. O relato contribui para o conhecimento clínico-científico ao evidenciar que a combinação do método de Ponseti com intervenções cirúrgicas seriadas e fisioterapia intensiva constitui abordagem eficaz para o PTC associado à AMC, desde que aplicada de forma individualizada e com adesão terapêutica contínua. Ressalta-se, ainda, a relevância da atuação integrada entre equipe multiprofissional e família para o alcance de resultados funcionais duradouros e melhora da qualidade de vida do paciente.