A Construção da Lepra em Goiás: Contágio e isolamento (1890-1943)

Autores

  • Leicy Francisca da Silva

DOI:

https://doi.org/10.21664/2238-8869.2015v4i1.p38-56

Resumo

Nesse artigo, apresentamos uma análise do processo de construção da lepra em Goiás a partir da observação dos enunciados dos envolvidos na elaboração das políticas sanitárias goianas, no período compreendido entre 1890 e 1943. Esse recorte temporal deve-se ao fato de pensarmos a constituição localmente de um discurso construtor da enfermidade anterior à elaboração do chamado tripé institucional de controle da moléstia. Nesse período, são elaborados argumentos justificando a necessidade de isolamento dos atingidos para a proteção dos sãos. Tais assertivas relevavam a necessidade do tripé institucional formado pelo leprosário (para o isolamento dos enfermos), o preventório (para afastamento e assistência dos filhos de doentes isolados) e os dispensários (responsáveis pelo acompanhamento dos que tinham tido contato próximo com doentes, os chamados comunicantes). O problema central que direciona a pesquisa é pensar qual o papel central dos estabelecimentos criados anteriormente ao tripé de ataque à lepra na definição das políticas de assistência aos doentes no estado? Como os discursos produzidos concomitantemente com a constituição desses estabelecimentos foram competentes para a transformação da enfermidade relacionando-a diretamente ao risco do contágio e à necessidade do isolamento dos doentes?

Palavras chave: História; Saúde e Doença; Goiás; Lepra/Hanseníase.

Biografia do Autor

Leicy Francisca da Silva

Doutora em História pela Universidade Federal de Goiás. Docente na Universidade Estadual de Goiás, Brasil.

Referências

Almeida EM de, 1937. O Problema da Lepra – A Lepra em Goiás XII. CORREIO OFICIAL. Arquivo Histórico Estadual de Goiás. Goiânia, 5 out.
Amora AA, 2008. Utopia ao Avesso nas Cidades Muradas da Hanseníase: O contexto da Colônia Santa Teresa em Santa Catarina. Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, v. 10, n. 3, p. 6.
Araujo HCS, 1937. A lepra e as organizações anti-leprosas do Brasil em 1936. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 32, n. 1.
Arimathéa A, 2007. Anápolis: suas ruas – seus vultos – nossa história. Goiânia: Papillon Gráfica.
Bechler RG, 2009. Muito mais do que isolamento em questão: ciência, poder e interesses em uma análise das duas primeiras conferências internacionais de lepra – Berlim 1897 e Bergen 1909. Revista Temporalidades: Revista do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, v. 1, n. 2, ago.-dez, p. 186.
Bériac F, 1988. Histoire des lépreux au moyen âge: une société d’exclus. Paris: Editions Imago.
Borges HC, 1975. História de Anápolis. Goiânia: Ed. Cerne, p. 111.
Brasil, 1923. Decreto Federal n. 16.300, de 31 de dezembro, artigo 139 parágrafo primeiro.
Brasil, 1936. Diário Oficial do Estado de Goiás. Auxílio às Nossas Instituições de Caridade. Arquivo Histórico Estadual de Goiás. Goiânia, 10 nov.
Brito SM de, 1946. Dados Históricos sobre a campanha contra a lepra em Goiaz. Revista Educação e Saúde. n. 29-30. Secretaria de Estado de Educação e Saúde de Goiaz. Imprensa Oficial. Goiânia, ago.-set, pp. 51-54.
Cabral D, 2009. Uma profilaxia ímpar: o lugar da lepra entre as endemias nacionais. ANPUH – XXV Simpósio Nacional de História – Fortaleza.
Caiado B de R, 1927. Serviço Sanitário. Mensagem enviada ao Congresso Legislativo do estado de Goyaz a 4 de junho de 1927, pelo presidente dr. Brasil de Ramos Caiado. Correio Oficial do Estado de Goyaz, n. 1298, p. 15.
Campos FI, 1999. Serviço de higiene: origem da saúde pública em Goiás. In: Freitas LCB de (Org.). Saúde e doença em Goiás: a medicina possível: uma contribuição da história da medicina em Goiás. Goiânia: Ed. UFG.
Campos FI, 2002. Mudança da Capital: Uma Estratégia de Poder. In Goiânia: Cidade Pensada/Tarcísio Rodrigues Botelho... [et al.] – Goiânia: Ed. UFG.
Cunha V da S, 2005. O isolamento compulsório em questão: políticas de combate à lepra no Brasil (1920-1941). Dissertação (Mestrado) – Fiocruz, Rio de Janeiro.
Cunha V da S, 2010. Isolados ‘como nós’ ou isolados ‘entre nós’?: a polêmica na Academia Nacional de Medicina sobre o isolamento compulsório dos doentes de lepra. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.17, n.4, out.- dez, p. 947.
Delaporte F, 2004. Épidémie. In: Lecourt D. Dictionnaire de la pensée médicale. Paris: PUF, p. 363.
Estado de Goiás, 1932. Regulamento de Saúde Pública do Estado de Goiás. Arquivo Fundação Cultural Frei Simão Dorvi. Goiás, pp. 92-93.
Feitosa JM, 2002. A influência evangélica na sociedade de anapolina. Dissertação de mestrado Universidade Católica de Goiás. Goiânia, p. 77.
Ferreira HJ, 1979. Anápolis, sua vida, seu povo. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, pp. 174-176.
Foucault M, 2004. História da Loucura: na Idade Clássica. – São Paulo: Perspectiva.
Foucault M, 2009. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. São Paulo: Ed. Loyola.
Freitas LCBF de, 1999. Goiânia: Lócus privilegiado de Saúde. In: Freitas LCBF de (Org.). Saúde e doenças em Goiás: a medicina possível: uma contribuição para a história da medicina em Goiás. Goiânia: Ed. UFG, p. 273.
Gomide LRS, 1993. Discurso médico e ação profilática: a hanseníase em questão. História e Perspectivas, Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, Curso de História, n. 8.
Jardim JR, 1835. Relatório que á Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessão ordinaria de 1835, o exm. presidente da mesma provincia, Joze Rodrigues Jardim. Meyaponte: Typ. Provincial, pp. 9-10.
Jornal da Cidade de Goyas, 1940. Ainda o caso do Leprosário. Arquivo do Gabinete Literário Goiano. Goiás, 21 de julho de 1940.
Jornal de Anápolis, 1941. Os belos gestos de caridade. Arquivo Histórico Estadual de Goiás. Coleção Jornais n. 239. Anápolis, 25 de dezembro.
Jornal de Anápolis, 1943. Vai ser inaugurado o Leprosário de Goiânia. Arquivo Fundação Cultural Frei Simão Dorvi, ano VIII, n. 389. Anápolis, 21 de fevereiro.
Jornal de Catalão, 1929. Leprosário em Catalão, n. 21, 1º set. Coleção de Jornais n. 229. Arquivo Histórico Estadual de Goiás.
Jornal Goyaz Novo, 1939. Pelo amor de Deus. Arquivo Histórico Estadual de Goiás. Coleção Jornais nº 238, 22 out.
Lima ZMM, 2009. Uma enfermidade à flor da pele: a lepra em Fortaleza (1920-1937) – Fortaleza. Museu do Ceará: Secult.
LIMA, Miguel da Rocha. Saúde Publica. Mensagem apresentada ao congresso legislativo a 13 de maio de 1924 pelo coronel Miguel da Rocha Lima, presidente do Estado. Goyaz, 1924. Disponível em: http://www.crl.edu/brazil/provincial/go. Acesso em 09 dez. 2012.
Martins EP, 1973. Notificação de doenças transmissíveis e suas implicações legais. Revista de Patologia Tropical, v. II, n. 3, jul-set.
Monteiro YN, 1993. Doença e estigma. Revista de História, São Paulo, n. 127-128, p. 131-139, ago.-dez. 1992/jan.-jul.
Monteiro YN, 1995. Da maldição divina à exclusão social: um estudo da hanseníase em São Paulo. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, São Paulo.
Oliveira D de, 1943. Oficío do prefeito da cidade de Goiás Divino de Oliveira ao comerciante Wadjou Rocha Lima. Ofício n. 330. Goiás, 13 de outubro.
Revista a Informação Goyana, 1932. Leprosários de Goiás, (Coleção fac-similar). out, p. 1690.
Salomon M, 2003. Segurança do território e segurança da população. Proj. História (27), São Paulo, p. 16, dez.
Santos LA de C; Faria L; Menezes RF de, 2008. Contrapontos da história da hanseníase no Brasil: cenários de estigma e confinamento. Revista Brasileira de estudos Populacionais [online], v. 25, n. 1. Disponível em: < www. Scielo.br>. Acesso em: 16 out. 2012.
Silva Araújo O, 2008. A profilaxia da hanseníase e das doenças venéreas no Brasil e a atuação do Departamento Nacional de Saúde Pública. Arquivos de Higiene, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, pp. 195-253, 1927. Apud Santos LA de C; Faria L; Menezes RF de, op. cit..
Silva LF da, 2013. “Eternos Órfãos da Saúde” [manuscrito]: medicina, política e construção da lepra em Goiás (1830-1962). Tese de doutoramento. Universidade Federal de Goiás, Goiânia.
Souza Araújo HC de, 1946. História da lepra no Brasil, períodos Colonial e Monárquico (1500-1889). v. I. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional.
Torres DO, 2002. Batallas contra la lepra: estado, medicina y ciência en Colombia. Medellín: Banco de la República, Fondo Editorial Universidad Eafit.
Torres DO, 2004. Lèpre. In Dictionnaire de la pensée médicale. Lecourt DP. Paris, pp. 673-677.
Wilding R, 1979. Semeando em Lágrimas. Goiânia: Aplic.

Publicado

2015-07-31

Como Citar

SILVA, Leicy Francisca da. A Construção da Lepra em Goiás: Contágio e isolamento (1890-1943). Fronteira: Journal of Social, Technological and Environmental Science, [S. l.], v. 4, n. 1, p. 38–56, 2015. DOI: 10.21664/2238-8869.2015v4i1.p38-56. Disponível em: https://revistas.unievangelica.edu.br/index.php/fronteiras/article/view/1280. Acesso em: 18 abr. 2024.

Edição

Seção

Dossiê - História, Saúde e Meio Ambiente